26/12/2018

Dia 23 continuação

A minha mãe ficou sem chão. Eu fiquei sem chão. Meu Deus, passar o natal sem a minha mãe, como é possível?? Comecei a sentir me abafada e retirei me. Tirei a camisola, arregacei as mangas da camisa e passei a mão na testa. Estava a suar como se tivesse ao sol a meia hora. Procurei um sitio pra vomitar. Não estava bem. Encostei a cara a parede e acalmei. Voltei a entrar. A minha mãe já estava a ser picada de novo, desta vez, por outro enfermeiro. Ouvimos, ao longe, a doutora Francisca a falar ao telefone que precisava de um quarto para uma senhora de 60 anos, Maria Florinda Vintena.
Merda, isto é real. Pensei.
A minha mãe não tirou os olhos da agulha. Começou a sentir se mal. E eu também. Voltei pra fora de novo com calores. Ouvi uma voz rouca a dizer "não me esrou à sentir bem". Espreitei é era a minha mãe a dizer que ia vomitar. O enfermeiro disse pra ir a casa de banho. Ela foi e ouvia a vomitar. Eu não consegui acompanha la. Porque eu estava tão ou mais enjoada que ela. Só queria vomitar também. Acalmei quando a vi sair e dizer que "não vomitei, foi só água, nunca me aconteceu isto"
Mas é normal, ela estava curiosa a olhar pra agulha, aquele calor insuportável, pronto.
Veio uma enfermeira com uma cadeira de rodas. Pediu a minha mãe que se sentasse e que pusesse o casaco nas costas pois o corredor era gelado. Pergu tei se a podia acompanhar ao quarto e ela disse que sim. Chegámos ao 4 piso e estava uma manada de médicos e enfermeiros a nossa espera. Ela iria ficar isolada, porque afinal, isto tudo foi por ter as defesas muito baixas e ganhou uma infeção. Entrei com ela, ajudei a à tirar a roupa e a vestir uma camisa de noite. Ela estava a querer chorar. Eu comecei mesmo a chorar. Deram nos vários conselhos a ter quando a fossemos visitar. Eram 3 e 30 da madrugada. Ofereceram lhe um chá e umas bolachas. Aquela imagem não me sai da cabeça. Ela parecia uma morta viva, sentada na cama, branca como as paredes, a beber o chá. Os médicos à falar muito sérios para mim, a explicar todos os procedimentos.. A minha mãe deitou se é eu despedi me dela. Fui comprar uma água para ela beber, de garrafa, porque água da torneira pode ser uma fonte de contaminação. Explicaram me onde era a máquina. Olhei praqueles corredores escuros e entrei em pânico. Uma enfermeira ofereceu se pra la ir comigo. E aproveitou para dizer que não era uma época fácil mas que tinha que ser forte. Caiu me o chão. Merda, a família toda unida, coisa que só acontece no natal, e a minha mãe internada. Um batizado sábado que vem e a voz do enfermeiro mal disposto "vai ficar uns dias valentes connosco". Não conseguia parar de chorar, enquanto a enfermeira me tentava consolar com "é o melhor pra ela!!" comprei a água e pedi a mulher que a levasse pra cima. Eu não estava em condições de votar a ver a minha mãe naquele momento. Ela disse q sim e veio me trazer a porta que dava acesso às urgências. Eu agradeci aquele gesto de amabilidade e sai. Entreguei o autocolante de acompanhante ao porteiro e disse "a minha mãe ficou internada"  ele olhou prós meus olhos inchados e fez uma cara de quem "sinto muito".
Sai, peguei num cigarro e encostei me a parede a chorar. Não conseguia acreditar que a minha mãe ia passar o natal sozinha!!! Mandei mensagem a minha irmã a dizer que a mae ia ficar e que eu já ia embora. Ela disse me que esperava por mim porque não tinha sono. Eram as 4 da manhã. Peguei no carro e as lágrimas caiam compulsivamente.
Cheguei a casa dela a chorar e só lhe disse "a mãe vai ficar i ternada uns dias" ela desatou a chorar instantaneamente. Expliquei toda a situação e comecei a comer a sande que o meu irmão tinha deixado. Não passava. Estava seco. Bebi um sumo. Vim pra trás. Sempre à chorar. Tudo à dormir. Deitei me. Sentia que todo o corpo me estava a doer. Tentei dormir, mas não consegui. Só me vinha a cabeça "esqueça as batatas em família", "vai passar uns dias valentes connosco". Pensava na minha mãe "será que já dorme??" "será que aquela imagem de morta viva a tomar um chá era normal?" "será que desmaiou" sempre que fechava os olhos a querer dormir um pouco, vinham me estas perguntas a cabeça. A Fátima tossia no quarto ao lado e eu parecia me a minha mãe. Mas não, são já 7h da manhã, eu sem pregar olho, e à minha mãe está no hospital i ternada, isolada, e sem bateria no telefone. As 10 e 30 vou lá levar lhe umas coisinhas.

Sem comentários: