27/12/2018

Dia 24 #consoada

Por volta das 6 da manhã a Angel a tinha me mandado mensagem a perguntar como estava a mãe. Contei lhe tudo, contei que íamos passar o natal sem ela, mas pior. Ela ia passar o natal sozinha. Ela ficou sem chão. Tem andado muito sensível ela também. Depois à Vera levantou se para fazer leitinho e viu que o lugar na cama da mãe estava vago. Veio ter comigo. Logo lhe disse "a mãe ficou no hospital. Por uns dias..." choramos. Eram 7h e eu sem pregar olho. Ouvi o meu pai a pôr se a pé, deve se ter perguntado o de estava a minha mãe. Fui ter ao quarto dele. Ele estava já a calçar se pra me vir procurar. A pergunta dele foi muito rápida. "onde está a mãe?" engoli em seco. Disse lhe muito calmamente. "a mãe ficou internada. . Por uns dias". Não precisei de lhe dizer mais nada. Desatou a chorar como um bebé, a bater com a cabeça nas paredes e com o comando na cabeça. "como vou passar o natal sem a mãe?" perguntava ele, enquanto chorava sufocado.
Expliquei que ela estava muito fraquinha, que tinha ganho uma infeção e que tinha de ficar boa antes de vir. Embora. Disse lhe que não tinha pregado olho durante a noite e que dali  A nada tinha que ir novamente ter com ela. Eram por volta das 8. Ele disse me que dormisse um pouco, que as 9h me chamava para eu ter tempo de preparar as coisas para a minha mãe. Adormeci. Passado muito pouco tempo, a minha cunhada chamou me muito mansinha "1corda Joaninha, são 9h". Olhei pro relógio, confirmei e levantei me num ápice. Queria preparar tudo pra levar  A minha mãe.
O meu irmão ia levar a menina ao médico e logo me disse que me deixava no hospital e depois me ia buscar. Não precisava de sobrar tudo pra mim.
Fomos comprar ainda uns pijamas, uns chinelos 3 uns bens necessários. Cheguei ao hospital e subi logo. Uma quantidade de protocolos. Batas, desinfectantes e luvas. Sem isso, não podia entrar no quarto d. A minha mãe. Assim foi. Entrei e pus o telemóvel a carregar e arrumei as coisas. Era dia de consoada. Ela estava muito triste e sensível. Tentei despachar me pq não ia aguentar aquilo muito tempo. Arrumei as coisinhas e disse que tinha que ir embora porque o José estava a minha espera. Mas não estava nada. Ela é que falava em alguma coisa e desatava a chorar. E eu não aguentava.
É difícil ver a vossa mãe nesta situação. Mas énquanto tiver forças, hei de me manter sempre forte, por si, por mim e por toda a família

26/12/2018

Dia 23 continuação

A minha mãe ficou sem chão. Eu fiquei sem chão. Meu Deus, passar o natal sem a minha mãe, como é possível?? Comecei a sentir me abafada e retirei me. Tirei a camisola, arregacei as mangas da camisa e passei a mão na testa. Estava a suar como se tivesse ao sol a meia hora. Procurei um sitio pra vomitar. Não estava bem. Encostei a cara a parede e acalmei. Voltei a entrar. A minha mãe já estava a ser picada de novo, desta vez, por outro enfermeiro. Ouvimos, ao longe, a doutora Francisca a falar ao telefone que precisava de um quarto para uma senhora de 60 anos, Maria Florinda Vintena.
Merda, isto é real. Pensei.
A minha mãe não tirou os olhos da agulha. Começou a sentir se mal. E eu também. Voltei pra fora de novo com calores. Ouvi uma voz rouca a dizer "não me esrou à sentir bem". Espreitei é era a minha mãe a dizer que ia vomitar. O enfermeiro disse pra ir a casa de banho. Ela foi e ouvia a vomitar. Eu não consegui acompanha la. Porque eu estava tão ou mais enjoada que ela. Só queria vomitar também. Acalmei quando a vi sair e dizer que "não vomitei, foi só água, nunca me aconteceu isto"
Mas é normal, ela estava curiosa a olhar pra agulha, aquele calor insuportável, pronto.
Veio uma enfermeira com uma cadeira de rodas. Pediu a minha mãe que se sentasse e que pusesse o casaco nas costas pois o corredor era gelado. Pergu tei se a podia acompanhar ao quarto e ela disse que sim. Chegámos ao 4 piso e estava uma manada de médicos e enfermeiros a nossa espera. Ela iria ficar isolada, porque afinal, isto tudo foi por ter as defesas muito baixas e ganhou uma infeção. Entrei com ela, ajudei a à tirar a roupa e a vestir uma camisa de noite. Ela estava a querer chorar. Eu comecei mesmo a chorar. Deram nos vários conselhos a ter quando a fossemos visitar. Eram 3 e 30 da madrugada. Ofereceram lhe um chá e umas bolachas. Aquela imagem não me sai da cabeça. Ela parecia uma morta viva, sentada na cama, branca como as paredes, a beber o chá. Os médicos à falar muito sérios para mim, a explicar todos os procedimentos.. A minha mãe deitou se é eu despedi me dela. Fui comprar uma água para ela beber, de garrafa, porque água da torneira pode ser uma fonte de contaminação. Explicaram me onde era a máquina. Olhei praqueles corredores escuros e entrei em pânico. Uma enfermeira ofereceu se pra la ir comigo. E aproveitou para dizer que não era uma época fácil mas que tinha que ser forte. Caiu me o chão. Merda, a família toda unida, coisa que só acontece no natal, e a minha mãe internada. Um batizado sábado que vem e a voz do enfermeiro mal disposto "vai ficar uns dias valentes connosco". Não conseguia parar de chorar, enquanto a enfermeira me tentava consolar com "é o melhor pra ela!!" comprei a água e pedi a mulher que a levasse pra cima. Eu não estava em condições de votar a ver a minha mãe naquele momento. Ela disse q sim e veio me trazer a porta que dava acesso às urgências. Eu agradeci aquele gesto de amabilidade e sai. Entreguei o autocolante de acompanhante ao porteiro e disse "a minha mãe ficou internada"  ele olhou prós meus olhos inchados e fez uma cara de quem "sinto muito".
Sai, peguei num cigarro e encostei me a parede a chorar. Não conseguia acreditar que a minha mãe ia passar o natal sozinha!!! Mandei mensagem a minha irmã a dizer que a mae ia ficar e que eu já ia embora. Ela disse me que esperava por mim porque não tinha sono. Eram as 4 da manhã. Peguei no carro e as lágrimas caiam compulsivamente.
Cheguei a casa dela a chorar e só lhe disse "a mãe vai ficar i ternada uns dias" ela desatou a chorar instantaneamente. Expliquei toda a situação e comecei a comer a sande que o meu irmão tinha deixado. Não passava. Estava seco. Bebi um sumo. Vim pra trás. Sempre à chorar. Tudo à dormir. Deitei me. Sentia que todo o corpo me estava a doer. Tentei dormir, mas não consegui. Só me vinha a cabeça "esqueça as batatas em família", "vai passar uns dias valentes connosco". Pensava na minha mãe "será que já dorme??" "será que aquela imagem de morta viva a tomar um chá era normal?" "será que desmaiou" sempre que fechava os olhos a querer dormir um pouco, vinham me estas perguntas a cabeça. A Fátima tossia no quarto ao lado e eu parecia me a minha mãe. Mas não, são já 7h da manhã, eu sem pregar olho, e à minha mãe está no hospital i ternada, isolada, e sem bateria no telefone. As 10 e 30 vou lá levar lhe umas coisinhas.

Dia #23 continuacao

-vai passar esta noite cá ? Como mãe, e porque?
Ela nunca à pergunta nada. Se lhe dizem "vai fazer isto" ela aceita e faz. Nunca questiona o porquê. Então aqui não puder ia ser exceção. Respondeu me que não sabia mas que o médico à tinha encaminhado para a Medicina, para a doutora Francisca, e que já nos iam acompanhar até lá.
Entretanto disse lhe que o José tinha deixado uma sande e que desse duas trincas. Ela fez se de difícil. Acabou por ceder e só dar mesmo duas trincas, pois estava enjoada. Normal, pensar passar a noite do 23 pro 24 no hospital, qualquer um enjoava.
Vieram ter connosco pra nos encaminhar então até a medicina. Estava nervosa, a achar que ia puder passar a noite com a minha mãe nos corredores do hospital, e no dia da consoada  logo pela manhã, viriam os as duas, felizes e contentes, para casa preparar as coisas.
Chegamos a medicina. Uma sala pequenina, com uns 40 graus lá dentro, 4 camas encostadas umas às outras e pouca luz. Pouca mesmo.
Tentei acalmar a minha mãe dizendo que se fosse só a noite, era ótimo. Porque no dia a seguir era óbvio que ela ia passar a consoada connosco. Que mentira fui eu dizer a mulher.
Tinha visto várias vezes um enfermeiro com umas trombas enormes e qual não foi o meu espanto quando lá chegámos e ... Aquele enfermeiro de cara feia veio ter com a minha mãe. Disse lhe que as análises não estavam boas  que ela ia levar uma catrafada de medicamentos na veia e que.. "-vai passar uns dias connosco!!!"
Uns dias connosco?! Mas que raio, ele deve estar a brincar, amanhã é consoada de natal, claro que este enfermeiro mal disposto está a brincar connosco.
A minha mãe sorri para não chorar e pergunta muito calmamente "mas é então.... Amanhã é dia de comer as batatas com a família..."
Aquele cabeçudo olha pra ela com cara de cu e responde lhe, agressivamente "esqueça as batatas em família. Vai comer as batatas mas é aqui, internada !! "

Continuação #dia23

Fomos fazer o raio X. Não estava lá ninguém a nossa frente. Ela entrou logo. Entretanto, vim cá fora tomar um café e fumar um cigarro, com a Lili e a Lara. No fim do raio X, tínhamos que esperar em frente ao gabinete do médico até que ele nos chamasse. Quando entrei, já à minha mãe estava em frente à porta do gabinete, farta de esperar e mortinha para vir embora. O problema começou aqui.
Entretanto um rapaz que também estava a espera do médico, meteu conversa comigo. Acabei por saber que a mãe dele a 4 anos atrás também teve cancro de mama, fez o tratamento, operação e reconstrução da mama e está aí pronta para as curvas. Ele com 10 anos teve leucemia e está ótimo também. Chamava se Diogo e via se naquele rapaz à transparência dele. Foi ajudar um senhor com dificuldades a sair da casa de banho sem o conhecer de lado nenhum.
O médico veio ter c ele, e pediu lhe que entrasse pro gabinete. Passados 5 min, ele saiu, de receita na mão e um "bom natal a todos". Mas eu pensava que este natal ia ser assim tão mau pra nós.
O médico veio a seguir ter connosco, pois queria umas análises ao sangue da minha mãe. Por precaução, dizia ele.
Ela foi fazer as análises e como havia poucos doentes lá, a enfermeira disse à minha mãe que podia la esperar confortável no cadeirão, que esperar nas cadeiras velhas do corredor. Assim fizemos. Passou de novo o médico com o resultado do raio X. Tinha líquidos no pulmão, mas ia levar um medicamento que a ia fazer muito Xixi nas duas horas seguintes pra eliminar aqueles líquidos. Disse a minha mãe que ia sair pra dizer as raparigas que ainda íamos demorar e pra elas irem embora.
Cheguei cá fora e disse lhes. Elas ligaram ao meu irmão para as ir buscar. Fumei um cigarro e tomei um café. Entretanto chegou e a Lili deu me dois beijinhos  no dia a seguir já ia pra Bragança. O meu irmão perguntou me se era preciso alguma coisa e que se quisesse tinha moedas pra eu tirar os cafés que quisesse. Não quis. Arrancaram e eu vim pra porta.
Acendi outro cigarro, e ligou me a Lili. Disse pra vir a estrada, porque o meu irmão tinha lhes trazido duas sandes, e a minha mãe estava c fome, e com certeza, eu também. Peguei numa para a minha mãe. Naquele momento já nem sabia se tinha fome, sono ou frio. Era por volta da 1 da manhã. Fui pra dentro e a minha mãe já não tinha nenhum fio ligado a ela. Estranhei. Lembro me daquelas palavras com os olhos cheios de água "vai te embora filha, é tarde e eu vou passar esta noite cá ".

Continuação #dia23

Saímos para o hospital. A Lili perguntou se queria que fosse connosco. Eu disse lhe que ela ia apanhar grande seca. Mas ela foi na mesma. A Lara veio a correr que também ia connosco. Bem, ao menos íamos ter com quem conversar enquanto esperávamos.
Assim foi. Chegamos, as urgências estavam a top! Não haviam cadeiras livres. Logo se ouviu a chamar o nome da minha mãe, pra triagem. Fomos e explicamos tudo. Mediram lhe a febre e tinha 38. Deram lhe pulseira amarela, com espera normal de 60 minutos. Esperamos 2 horas. A minha mãe estava desesperada, cada vez com mais tosse. Não se ouvia ninguém a chamar a não ser pra triagem. Pediu me que fosse falar com o porteiro. Coitado daquele rapaz, prai com os seus 20 anos, sempre a arranjar os caracóis e a gravata. Ele explicou me que havia 9 pulseiras amarelas na sala e uma verde. Então, tínhamos que aguardar.
Ao fim de 3h e 30 min, fomos chamadas. Era um médico jovem mas muito, muito simpático. Logo nos disse que trabalhava no ipo, mas não na zona que a minha mãe frequentava normalmente. Fez várias perguntas e escutou a minha mãe. Anotou tudo, até que a minha mãe tomou um remédio efervescente que lhe deram na farmácia para 3x ao dia, quando na verdade era só uma!!! Escutou-a é disse que aparentemente os pulmões estavam limpos, mas que ia pedir um raio X para ter a confirmação disso.

Cancro da mama #4 dia 23 de dezembro

Hoje, foi um dia muito especial. Estivemos muito tempo a espera que o dia 23 de Dezembro chegasse. Foi o dia do batizado da pequena Luana (ela estava deslumbrante e sempre muito sorridente).
Começamos o Domingo com todas as mulheres a correr para a cabeleireira. Chegamos todas ao mesmo tempo, lindas!! A minha mãe decidiu cortar ainda mais o cabelito, porque entretanto ele vai começar a cair. Ela tem andado mal disposta e sem vontade para nada, devido aos efeitos da quimioterapia. Além disso, tem tido uma tosse muito ruim!!!
O dia passou se é viemos embora. A minha mãe deitou se logo que chegou a casa. A noite estávamos a falar em ir ao bowling. Até que a minha mãe me chamou ao quarto dela e me disse, em pânico "filha, já deito sangue na expectoração :("
Não hesitei, entrei em stress, peguei no telefone e liguei logo para o IPO Porto, onde está a ser acompanhada. Expliquei a situação, e eles disseram me que não podiam receitar nada por telefone, mas que como fez quimioterapia a pouco tempo, que levasse a minha mãe ao hospital de Barcelos. Desliguei e disse a minha mãe "oupa, vamos ao hospital !!"
Ela nem prestanejou. Deu um beijo a Luana, que estava deitada com ela, e disse lhe "vês bebe à tia Joana vai me levar ao hospital". Pos se a pé e vestiu se. Eu estava em pânico. Fumei dois cigarros enquanto ela se preparava para sair. Disse me que estava pronta e eu disse lhe que devia levar um lenço pra proteger o pescoço. Virou pra trás num ápice e foi buscar um lenço.